Minha trajetória com as artes tem início em 2001, quando fui contemplado em um programa nacional de mapeamento de artistas emergentes e, simultaneamente, concluí a graduação em Comunicação Social, apresentando um projeto experimental sobre e com fotografia. De lá até aqui, a experimentação com as artes é uma atividade sempre presente, se realiza em ritmo próprio e se articula com outros campos de atuação e de saber. Abaixo, apresento os principais projetos, retrospectivamente.

[2024] Desejo Natural Obeservação Caatinga Suficiência

O projeto é parte de um processo artístico desenvolvido em parceria com Vitor Cesar desde 2018. O processo, que se realiza como pesquisa e experimentação, tem como objetivo investigar a hipótese de que a caatinga oferece uma resistência natural ao projeto colonial. Em 2023, fomos selecionados no edital Retomadas da Funarte para a realização de uma breve residência no sertão central cearense, com as artistas convidadas Eleonora Fabião e Graziela Kunsch, e de ações nos equipamentos culturais públicos Casa de Saberes Cego Aderaldo, em Quixadá, e Casa de Antônio Conselheiro, em Quixeramobim. A residência aconteceu no início de abril de 2024, quando eu, Vitor, Eleonora e Graziela convivemos por 10 dias com a caatinga e realizamos encontros com pessoas da região, como a profeta da chuva D. Lourdinha, os historiadores e conselheiristas Neto Camorim e Ailton Brasil, e o geógrafo e pesquisador sobre sítios arqueológicos Alexandre Pinheiro. Em julho do mesmo ano, eu e Eleonora realizamos atividades na Casa de Saberes com a participação dos artistas Belchior Torres, Diana Medina, João Charlie, Osvaldo Andrade, Renato de Humaitá e Talys de Queiroz. Juntes com eles propomos a ação "9 cadeiras" (na imagem). "9 cadeiras se movem na Casa de Saberes Cego Aderaldo durante 1 mês (de 13 de julho a 13 de agosto de 2024). 1 cadeira é da própria Casa, 1 do Café Cultural e 7 vieram de distintas moradas trazidas pelos participantes do encontro Conversa em volta da mesa. Ao longo do dia, as cadeiras ficam dentro, constelando com tudo o que aqui está e por aqui passa. Ao entardecer, entre 16:30h e 18:00h, ficam fora, na calçada, alargando a Casa, constelando com a rua. As cadeiras estão assim, conosco, disponíveis para quem quiser sentar".

[2024] Exercício de Imaginação para outras possíveis vizinhanças


Essa proposição foi apresentada na Caixa Cultural Fortaleza como um dos trabalhos da exposição coletiva Performar. Na galeria foram expostas 2 pranchas com estudos arquitetônicos de um projeto que previa a ausência do muro que separa a principal rua da comunidade Poço da Draga e o jardim do centro cultural. As imagens foram realizadas em colaboração com Cinira d'Alva e Hector Isaias, arquitetes e artistes, a partir da interlocução com Ana Nina, Cassia Vasconcelos, Gleice Correia, Ivoneide Gois, Izabel Lima e Sérgio Rocha, moradores do Poço da Draga. Impresso em uma das imagens, um QRcode dava acesso ao mesmo documento que se encontra no link 'anotações para a exposição Performar'.

[2021] Drought Nurturing Orós Caatinga Sertão
Parte do processo de pesquisa e experimentação desenvolvido em parceria com Vitor Cesar desde 2018. Nesse momento, em parceria com o O Grupo Inteiro, fomos contemplados no programa de Fellowship do Nieuwe Instituut Rotterdam. A participação no programa possibilitou um tempo de pesquisa e uma experiência de convivência no sertão central cearense, que está documentada em uma entrevista e registros publicados no site do HET Nieuwe.
[2019] Desapropriação, Natural, Observação, Caatinga, Seca


Parceria com Vitor Cesar para o Projeto Parede do MAM - SP, essa proposição é a primeira intervenção do processo de pesquisa e experimentação em curso desde 2018, interessado no imaginário produzido sobre a caatinga. No corredor de acesso à principal galeria do museu, dispomos um grande painel produzido em madeira e zinco recortados com as palavras "injustiça hídrica". "A imagem da seca é compreendida como parte da identidade da região Nordeste do Brasil, algo que supostamente não diz respeito apenas ao clima, e que cria narrativas, imaginários coletivos, políticas públicas e grandes obras. Esta representação está diretamente ligada, por exemplo, à criação de programas, campanhas e instituições como o DNOCS (Departamento Nacional de Obras Contra as Secas)". Na legenda do trabalho, um QRcode dava acesso a um documento de apresentação do conceito injustiça hídrica.
[2015] Descrito como Real

Projeto realizado em parceria com Vitor Cesar e apresentado no Centro Cultural São Paulo. 'Descrito como Real' tem como elemento central um video cuja edição é vinculada à música Ficção Científica, da banda Cidadão Instigado. Esta edição realizada por Renan Costa Lima e Fernando Stutz, reproduz trechos de vídeos já existentes, produzidos por órgãos públicos, que divulgam grandes projetos de intervenção na estrutura urbana da cidade de Fortaleza (CE). Os vídeos originais são um convite a imaginar o futuro da cidade, mas suas imagens também nos convocam a um debate urgente e necessário: quem imagina a cidade?
[2014] 108 anos do Poço da Draga
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Projeto que participou da exposição "Uma mostra sem qualidades" no MAC-CE. No espaço da galeria, foram apresentados 4 cartazes de divulgação da programação de aniversário do Poço da Draga, que aconteceria durante o mesmo período da exposição. A exposição fazia parte das comemorações do aniversário de 15 anos do Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura. O Poço da Draga é a comunidade imediatamente vizinha ao centro cultural. Os cartazes, desenhados por quatro artistas convidados por mim a apoiar o evento da comunidade, também foram colados pela cidade. Um site construído junto com pessoas da comunidade estava indicado nos cartazes e era acessível através de um QRcode. No site, encontrava-se toda a programação, envolvendo diversas atividades com a participação de artistas e agentes culturais do próprio Poço da Draga e também de outros lugares da cidade. No primeiro dia da exposição, como parte do trabalho, foram publicados dois diferentes artigos meus, nos dois jornais de maior circulação da cidade. Na própria comunidade, a partir da experiência proporcionada pela programação de aniversário, assim como nas visitas ao museu, as possibilidades de convivência eram consideradas experiências estéticas fundamentais ao trabalho.
[2008] onde aqui se localiza
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"Isto não é um convite para uma exposição, somente. Pretende-se a continuação de uma conversa, dessas que não é possível localizar seus inícios nem seus fins. Onde aqui se localiza é algo como objeto-desenho-paisagem-instalação-documentário-experiência, qualquer gênero interessado em compreender o lugar onde habitamos juntos, aqui. Durante alguns dias eu, Enrico, junto com Arnaldo, Ayla, Beth, Camila, Cris, Elitiel, Lili, José, Magda, Robézio, Robson, Rômulo, Valdeci e Yure nos encontramos no Sesc Iracema e construímos o lugar para onde lhe convidamos agora". (trecho do convite)
Um espaço foi construído com quatro paredes brancas cenográficas. Quatro encontros foram realizados com 12 participantes. A cada encontro, um mapa foi fixado em uma parede: Fortaleza, Brasil, Mundo e o mapa astronômico da vista do céu a partir de Fortaleza. Em todos os mapas foi inicialmente indicada a localização do encontro com a frase "estamos aqui". Cada participante inscreveu duas outras localizações em cada mapa, seguindo orientações como "onde você mora, um lugar na cidade que considera importante, um lugar que já visitou, um lugar que gostaria de conhecer, onde é possível o ser humano habitar, onde poderia existir outras formas de vida..." A partir de cada mapa, foram realizadas conversas entre os participantes seguindo orientações como "descreve pro grupo a paisagem que você vê no lugar onde mora; descreve para o grupo como você imagina um dos lugares apontados no mapa, mas que você não conhece; descreve para o grupo como você imagina o lugar que você sinalizou que gostaria de conhecer, descreve para o grupo como você imagina o lugar apontado no mapa que você jamais gostaria de estar…" As conversas foram gravadas em vídeo e cada pessoa foi gravada enquanto falava em um enquadramento portrait. Para a apresentação pública, foram incluídos no espaço 4 monitores que reproduziam simultaneamente as conversas gravadas. No espaço, o som dos monitores se confundiam, exigindo atenção do visitante para acompanhar o vídeo escolhido.
[2006] Perguntas Ordinárias em Percursos Existenciais
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Projeto apresentado no Centro Cultural Banco do Nordeste (2006) e na Funarte - DF (2008).
O projeto que integra colagem de adesivos em bancos de ônibus que realizam o transporte coletivo e apresentação de fotografias na galeria de um centro cultural. O projeto é composto por 7 adesivos e 7 imagens correspondentes.
“Enrico Rocha constrói um jogo complexo e circular de referências e operações perceptivas e metalingüísticas: confunde–as entre permutas e cruzamentos infinitos. À contigüidade existencial e causal do índice fotográfico se tramam as interrogações existenciais e ordinárias. À indexação presença/ausência de um sujeito se enunciando como idêntico, se substitui a imagem-traço, rastro sem face ou voz. Às relações paradoxais entre tempo/espaço impostas pela fotografia, se entrelaçam as incógnitas do tempo da vida pessoal, do tempo do percurso cotidiano, do tempo dos desejos adormecidos, das narrativas pessoais e coletivas, prometidas ou frustradas. Ao tempo repetido e mecânico das rotinas, se embaraça a série e o fragmento descontínuo da fotografia. À sua qualidade errática e imprecisa, confunde-se a condição errática, indecisa e sobressaltada da existência contemporânea, vagando em um coletivo qualquer por uma cidade qualquer". Marisa Flórido, trecho do texto de apresentação da exposição.
[2005] Saídas de Emergência
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Projeto participante do Arte Pará 2005. “A crítica institucional de Enrico Rocha, “Saída de Emergência”, é um site specific (feita especialmente para o prédio que abriga o Arte Pará). Rocha estudou as saídas de emergência do edifício do Museu do Estado do Pará e registrou os pontos específicos num mapa. Afixou uma placa de saída em cada um deles. Isto não é o mero estudo de evacuação emergencial do prédio. Saída de Emergência trata da visitação a mostra em museus. Imperceptíveis ou confundidas com os sinais do edifício, as placas estão no lugar dos significados inapreendidos ou da improdutividade significante da exposição. O ritmo emergencial de saída é a dispersão de gente e obras antes de completado o círculo comunicacional da arte pela curadoria, montagem, visita, crítica e mesmo por este catálogo que o leitor tem em mãos.” Paulo Herkenhof, curador geral do Arte Pará 2005.
Um mapa indicando as saídas do Museu foi exposto no salão de entrada e em cada localização indicada no mapa foi fixada uma placa "SAÍDA DE EMERGÊNCIA". Os verbetes “emergência” e “emergir”, retirados do dicionário Houaiss de língua portuguesa, fazem parte do mapa.
"Emergência: ato ou efeito de emergir. Emergir: trazer ou vir à tona; tornar-se claro ou compreensível; aparecer, expressar-se, manifestar-se".
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[2003] continuo tentando compreender
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Um quebra-cabeça de 100mil peças brancas desmontado sobre o chão da galeria. Ao visitante é permitida a manipulação das peças. O público observa, monta ou desmonta, participando de um jogo necessariamente coletivo. Da idéia de conjunto, entende-se a compreensão para além do entendimento: o que compreende, contém, envolve, tem como parte; o que é compreendido está contido, pertence, é parte. Nesta proposição também está em jogo a ação individual em contextos complexos.
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[2001] Insônia
Projeto contemplado no programa Rumos Visuais Itáu Cultural 2001-2003
“As fotografias de Enrico Rocha, Insônia, apreendem aquilo que é quase inapreensível, em rastros e flashes de um olhar conturbado e disperso. Num movimento de translação fotográfica, usa da cor-luz registrando estroboscopicamente os alvos de seus disparos perdidos. Mais que os desenhos de luzes sobressaem na contracena a perturbação e a dislexia.” Paulo Smith, curador da exposição Pupilas Dilatadas.
“As fotografias do cearense Enrico Rocha, em sua série Insônia, abrem-se para significações diversas, apresentando o deslocamento da imagem, fazendo-a perder a nitidez. Seus monitores são janelas que deslocam o observador, fazendo-o trilhar sua própria condição isone”. Cleomar Rocha, curador da exposição Aberturas e Ecos.
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[2001] Terminal da Parangaba
Projeto Experimental de graduação no curso de Comunicação Social. Imagens fotográficas produzidas a partir da convivência com o terminal de integração de ônibus urbanos de Parangaba, em Fortaleza. No processo de produção das imagens, interessava menos os elementos de composição de uma boa fotografia documental e mais os impulsos afetivos dados pelas interações e presença do corpo no contexto. As imagens foram realizadas em película a partir de uma câmera na mão, mas fora do olho. Após a revelação dos negativos, algumas imagens foram selecionadas de modo a narrar a experiência.